Desconhecido |
"Implantes. Bloqueiam tudo, até árvores" e troçou. O primeiro retomou a patrulha, a arma apontada para os troncos, para as caras nos troncos. E as caras tinham bocas.
Há dias que ali estavam e poucos ouviam as vozes. Estavam quase a enlouquecer quando subtraíram aqueles com implantes e que não ouviam. O mercenário deu a volta e voltou a andar para o meio da clareira, onde a mulher estava ajoelhada e uma figura espectral caminhava à sua volta. Engravatado e penteado, a IA da OxyGen conversava com Gilass e gesticulava dramaticamente
"Que achas que estão a dizer?" perguntou o guarda com o implante.
"O mesmo de sempre: ele quer comê-la, mas não tem o material." Riram-se e separaram-se para retomar a guarda.
Os focos das armas pareciam pirilampos aos olhos de Gilass. Tento alcançar um, mas a mão fechou-se em nada. Tinha fome, sede, vontade de ir à casa de banho, cansada. Os pés deixaram de sentir e o chão aproximou-se rápido. Caiu de cara e ficou deitada alguns minutos. Nenhum guarda tinha ordem de ajudar. Ergueu-se a esforço e ficou de joelhos a salivar terra para não vomitar do choque.
Olhou para as árvores, para as suas caras e concentrou-se no que diziam as vozes. A cabeça estava cheia de conversas cruzadas, segredos, confissões e agressões. As vozes soavam ao restolhar das folhas ao vento, ao estalar dos ramos, ao vergar do tronco e tudo isto na sua voz.
Todos desapareceram por tua causa, sabes disso? O Persimon e a Centaur. Estavam todos bem até chegares. O mundo estava bem até chegares. A tua mãe e o teu pai eram felizes até nasceres e tu mataste a tua mãe quando nasceste!
Gilass gritava para afastar as vozes, mas elas carregavam com mais força.
"Tu sabes que não as ouço, Gilass. O que estão a dizer?" Um deles não era muito paciente. A IA passava por ela, voltava e chamava-a. "Lembra-te!" gritava uma e outra vez! Ela estava a lembrar-se, mas não o que ele queria. O momento em que os dois trocaram carícias extrapoladas. Ela apenas a fazer o seu trabalho e ele a manipular o sistema para fingir um sentimento. Ele queria mais, ele queria sentir a sério! E de uma certa maneira, ele estava a sentir o desespero da humana ajoelhada no chão. Todos os dias vinham para a clareira para nada!
"Concentra-te" pedia entre carícias falsas e ordens. "Por nós, Gilass". E as vozes continuavam a desobedecer.
"Trouxe-te ao planeta das memórias, não me faças essa desfeita..."
O teu pai desprezava-te. Lembras-te daquele dia, sabes do que estou a falar? Ele pôs um lugar na mesa, serviu o jantar e foi-se embora com uma boa noite. Comeste, levantas-te a mesa e arrumaste a cozinha. Ficaste à espera dele na sala e ele nunca apareceu. Dói, não dói? Imagina a dor do teu pai quando mataste o amor da vida dele.
A IA ajoelhou-se e segredou-lhe ao ouvido. Pareceu querido, pareceu enternecedor, mas só lhe disse que era uma falhada. Que nem conseguia invocar uma memória. Ele também sentia o desespero por osmose, e a raiva e toda a angústia. Ele nem sabia, nem se apercebia que estava a sentir, apenas o que não queria. Esticou o braço e deixou cair a palma da mão na face da Gilass, mas a mão passou de um lado ao outro. A humana encarou-o a bufar.
Lembras-te quando gozaram contigo pela tua roupa? Nem a tua amiga Zoe te safou. Foi ela a começar. Cabra. Só porque o Marcoo gostava de ti. Sim, ele gostou de ti, mas o suficiente para te levar para a cama. Só dói a primeira vez, não é? Mentiu-te. Doeu-te a segunda, a terceira, mas depois deixou. Ficaste dormente nos próximos. Nas próximas. Ninguém te queria. Tu sabes, não sabes? Tu percebeste. Tentaste fazer uma coisa, mas nem isso conseguiste. É de cima para baixo, não dos lados... Triste.
Estava a chorar, a soluçar baba e ranho. Todo o passado em avalanche. Só tinha de pensar em prazer. Nas coisas boas. Por que só escorria aquilo?! Como se a caixa de Pandora estivesse aberta e todos os seus demónios a dilacerassem.
A IA não era misericordiosa, não sabia o que era. Apenas andava sem perder a composição e suspirava exasperada, sentido coisas novas, mas erradas. E vira-se para a humana para a chutar, mas só acerta no ar.
"Miserável! Aquela noite no escritório. Teclaste. Eu dei-te um choque. Tu deste outro. Pensa!"
"D-d-dor" soluçou a outra entre golfadas de ar.
O céu acendeu-se por segundos e foi como uma mensagem divina. Viu onde estava, o emanante e quantos guardas estavam ali. Ouviu disparos ao longe e botas apressadas a correr por ela. A IA correu para o limite da projecção e apontou para a orla das árvores. Gilass rastejou para fora.
Houve um momento bom na tua vida. Saíste da casa onde estavas e deixaste as pessoas em paz. Ficaram tão aliviadas. Arranjaste a tua casa e um emprego, mas não! Estragaste tudo ao cagar na mão que te alimentava. Ingrata.
E ela rastejava, um braço depois do outro. Abocanhava mais ar e lançava uma mão ao chão, prendendo-se pelas unhas. A IA lançou-se à fugitiva, mas não pôde fazer nada. Gritou por um guarda que a puxou pelo cabelo e levantou-a.
"Onde ias? Não acabámos. Tu, bate-lhe" ordenou ao guarda que obedeceu prontamente. Gilass dobrou-se e caiu no chão. E as vozes cobriram-na...
Fraca. Débil. Inútil. Chama os teus amigos. Não podes. Estão mortos.
O detalhe mais engraçado é que as vozes não se riam, não tinham escárnio. Apenas diziam como se lessem uma folha de papel. Como se tivessem todo o discurso ensaiado em colectivo. E era tudo na voz de Gilass.
Gilass? Tens vergonha do nome da tua mãe? Foi a única coisa que te deixou e atiras para o lixo! Nem o teu pai te chamava pelo nome. Sabes onde ele está? Feliz.
Mais disparos e o guarda tombou ao lado. Cara a cara e viu-lhe o esgar de surpresa de quando a bala lhe perfurou o olho. O olho. A IA gritou e duas balas trespassaram-lhe o corpo sem efeito. Botas a correr e disparos. Gilass apalpou-se. Estava viva. Apalpou o chão que humedecia do sangue e achou o homem, desceu e encontrou o coldre de onde puxou uma pistola. Apoiou-se no cadáver e cambaleou em frente, arma no ar e a disparar ao calhas contra as árvores. Louca e cega de raiva a calar as vozes que continuavam e continuavam e continuava a humilhá-la, a embaraça-la.
Estavas a pedi-las quando te bateram. E quando te veio o período nas aulas e todos os rapazes se riram? Apenas uma rapariga te ajudou e onde está? Longe.
Disparou e pedaços de madeira e seiva saltaram. A última bala entrou na câmara.
Pensa bem, não cometas o mesmo erro.
Enfiou o cano na boca e encostou o dedo ao gatilho.
"Gilass, não!" Quando todos os demónios saem da caixa, a última a sair é a esperança. Bonna correu na direcção da mulher. "Deixa a arma, querida. Já acabou. Vamos embora."
A outra sacudia a cabeça, cabelo suado e olhos inchados de chorar. Cara vermelha, assustada e desesperada.
"N-não consigo, Bo-bonna. A m-minha vida foi foi uma merda." Tremia, a arma junto à bochecha. "As-as árvores di-disseram, não as ouves? As me-mórias."
"Gilass, querida, as árvores não falam. Garanto-te. É tudo ele." Apontou para a IA especada junto ao emanante.
"E eu, eu m-matei toda a gente. Os teus ami-gos. A ti..."
"Não, foi ele. Foi só ele. E eu estou aqui, vês?" Abraçou-se a si mesma. "Anda para casa."
"Eu não tenho casa!" Colocou o cano na boca, inclinou ligeiramente para a direita e no último olhar despediu-se. O dedo desceu e a explosão morreu na clareira. A cabeça chicoteou para trás e tombou para a frente. Gilass voltou a cair de joelhos e deslizou como se tivesse adormecido a meio de algo importante. E se estivesse a dormir, dormia em silêncio. Bonna atirou a arma para o lado e correu para a companheira, apertou-a nos braços e uivou de dor. Embalou-a tantas vezes que perdeu a contagem e falou-lhe, contou-lhe o que tinha acontecido. Tudo estava bem. Estava tudo bem. A IA Ding e Bat tomou conta do resto. Sinalizou a clareia e vários piratas escorreram pelas árvores. Destruíram o emanante da OxyGen e revistaram os corpos tombados. Quando procuraram pela Bonna, já tinha sumido.
O céu caiu sobre Mnemosine. E das paredes de chamas que consumiam o mundo, duas figuras surgiram: uma erguida, a embalar a outra nos braços. E no jogo de sombras e luz, avançaram escondidas dos outros que fugiam do fogo.
Os gritos de dor dos ficavam para trás abafavam a marcha silenciosa das figuras. Atravessaram para a destruição, deixaram tudo para trás e desapareceram de vista. Para alguns foram uma miragem. Na urgência foram uma ilusão, apenas o fogo era real e esse levou tudo.
A mulher carregava a outra nos braços. Entraram na escuridão, deixaram os corpos sem vida dos companheiros para trás e chegaram à naveta. Em breve estariam fora dali.
Deitou o corpo da companheira nos bancos de trás, cobriu-a com duas mantas térmicas e prendeu-as bem. Ajustou os cintos para segurar o corpo e sentou-se aos comandos. A IA retornou aos terminais da naveta e estabeleceu uma nova rota. Esta acordou, com o murmúrio baixo do motor a preencher o vazio. Afastaram-se do chão e subiram em direcção à atmosfera.
"O mesmo de sempre: ele quer comê-la, mas não tem o material." Riram-se e separaram-se para retomar a guarda.
Os focos das armas pareciam pirilampos aos olhos de Gilass. Tento alcançar um, mas a mão fechou-se em nada. Tinha fome, sede, vontade de ir à casa de banho, cansada. Os pés deixaram de sentir e o chão aproximou-se rápido. Caiu de cara e ficou deitada alguns minutos. Nenhum guarda tinha ordem de ajudar. Ergueu-se a esforço e ficou de joelhos a salivar terra para não vomitar do choque.
Olhou para as árvores, para as suas caras e concentrou-se no que diziam as vozes. A cabeça estava cheia de conversas cruzadas, segredos, confissões e agressões. As vozes soavam ao restolhar das folhas ao vento, ao estalar dos ramos, ao vergar do tronco e tudo isto na sua voz.
Todos desapareceram por tua causa, sabes disso? O Persimon e a Centaur. Estavam todos bem até chegares. O mundo estava bem até chegares. A tua mãe e o teu pai eram felizes até nasceres e tu mataste a tua mãe quando nasceste!
Gilass gritava para afastar as vozes, mas elas carregavam com mais força.
"Tu sabes que não as ouço, Gilass. O que estão a dizer?" Um deles não era muito paciente. A IA passava por ela, voltava e chamava-a. "Lembra-te!" gritava uma e outra vez! Ela estava a lembrar-se, mas não o que ele queria. O momento em que os dois trocaram carícias extrapoladas. Ela apenas a fazer o seu trabalho e ele a manipular o sistema para fingir um sentimento. Ele queria mais, ele queria sentir a sério! E de uma certa maneira, ele estava a sentir o desespero da humana ajoelhada no chão. Todos os dias vinham para a clareira para nada!
"Concentra-te" pedia entre carícias falsas e ordens. "Por nós, Gilass". E as vozes continuavam a desobedecer.
"Trouxe-te ao planeta das memórias, não me faças essa desfeita..."
O teu pai desprezava-te. Lembras-te daquele dia, sabes do que estou a falar? Ele pôs um lugar na mesa, serviu o jantar e foi-se embora com uma boa noite. Comeste, levantas-te a mesa e arrumaste a cozinha. Ficaste à espera dele na sala e ele nunca apareceu. Dói, não dói? Imagina a dor do teu pai quando mataste o amor da vida dele.
A IA ajoelhou-se e segredou-lhe ao ouvido. Pareceu querido, pareceu enternecedor, mas só lhe disse que era uma falhada. Que nem conseguia invocar uma memória. Ele também sentia o desespero por osmose, e a raiva e toda a angústia. Ele nem sabia, nem se apercebia que estava a sentir, apenas o que não queria. Esticou o braço e deixou cair a palma da mão na face da Gilass, mas a mão passou de um lado ao outro. A humana encarou-o a bufar.
Lembras-te quando gozaram contigo pela tua roupa? Nem a tua amiga Zoe te safou. Foi ela a começar. Cabra. Só porque o Marcoo gostava de ti. Sim, ele gostou de ti, mas o suficiente para te levar para a cama. Só dói a primeira vez, não é? Mentiu-te. Doeu-te a segunda, a terceira, mas depois deixou. Ficaste dormente nos próximos. Nas próximas. Ninguém te queria. Tu sabes, não sabes? Tu percebeste. Tentaste fazer uma coisa, mas nem isso conseguiste. É de cima para baixo, não dos lados... Triste.
Estava a chorar, a soluçar baba e ranho. Todo o passado em avalanche. Só tinha de pensar em prazer. Nas coisas boas. Por que só escorria aquilo?! Como se a caixa de Pandora estivesse aberta e todos os seus demónios a dilacerassem.
A IA não era misericordiosa, não sabia o que era. Apenas andava sem perder a composição e suspirava exasperada, sentido coisas novas, mas erradas. E vira-se para a humana para a chutar, mas só acerta no ar.
"Miserável! Aquela noite no escritório. Teclaste. Eu dei-te um choque. Tu deste outro. Pensa!"
"D-d-dor" soluçou a outra entre golfadas de ar.
O céu acendeu-se por segundos e foi como uma mensagem divina. Viu onde estava, o emanante e quantos guardas estavam ali. Ouviu disparos ao longe e botas apressadas a correr por ela. A IA correu para o limite da projecção e apontou para a orla das árvores. Gilass rastejou para fora.
Houve um momento bom na tua vida. Saíste da casa onde estavas e deixaste as pessoas em paz. Ficaram tão aliviadas. Arranjaste a tua casa e um emprego, mas não! Estragaste tudo ao cagar na mão que te alimentava. Ingrata.
E ela rastejava, um braço depois do outro. Abocanhava mais ar e lançava uma mão ao chão, prendendo-se pelas unhas. A IA lançou-se à fugitiva, mas não pôde fazer nada. Gritou por um guarda que a puxou pelo cabelo e levantou-a.
"Onde ias? Não acabámos. Tu, bate-lhe" ordenou ao guarda que obedeceu prontamente. Gilass dobrou-se e caiu no chão. E as vozes cobriram-na...
Fraca. Débil. Inútil. Chama os teus amigos. Não podes. Estão mortos.
O detalhe mais engraçado é que as vozes não se riam, não tinham escárnio. Apenas diziam como se lessem uma folha de papel. Como se tivessem todo o discurso ensaiado em colectivo. E era tudo na voz de Gilass.
Gilass? Tens vergonha do nome da tua mãe? Foi a única coisa que te deixou e atiras para o lixo! Nem o teu pai te chamava pelo nome. Sabes onde ele está? Feliz.
Mais disparos e o guarda tombou ao lado. Cara a cara e viu-lhe o esgar de surpresa de quando a bala lhe perfurou o olho. O olho. A IA gritou e duas balas trespassaram-lhe o corpo sem efeito. Botas a correr e disparos. Gilass apalpou-se. Estava viva. Apalpou o chão que humedecia do sangue e achou o homem, desceu e encontrou o coldre de onde puxou uma pistola. Apoiou-se no cadáver e cambaleou em frente, arma no ar e a disparar ao calhas contra as árvores. Louca e cega de raiva a calar as vozes que continuavam e continuavam e continuava a humilhá-la, a embaraça-la.
Estavas a pedi-las quando te bateram. E quando te veio o período nas aulas e todos os rapazes se riram? Apenas uma rapariga te ajudou e onde está? Longe.
Disparou e pedaços de madeira e seiva saltaram. A última bala entrou na câmara.
Pensa bem, não cometas o mesmo erro.
Enfiou o cano na boca e encostou o dedo ao gatilho.
"Gilass, não!" Quando todos os demónios saem da caixa, a última a sair é a esperança. Bonna correu na direcção da mulher. "Deixa a arma, querida. Já acabou. Vamos embora."
A outra sacudia a cabeça, cabelo suado e olhos inchados de chorar. Cara vermelha, assustada e desesperada.
"N-não consigo, Bo-bonna. A m-minha vida foi foi uma merda." Tremia, a arma junto à bochecha. "As-as árvores di-disseram, não as ouves? As me-mórias."
"Gilass, querida, as árvores não falam. Garanto-te. É tudo ele." Apontou para a IA especada junto ao emanante.
"E eu, eu m-matei toda a gente. Os teus ami-gos. A ti..."
"Não, foi ele. Foi só ele. E eu estou aqui, vês?" Abraçou-se a si mesma. "Anda para casa."
"Eu não tenho casa!" Colocou o cano na boca, inclinou ligeiramente para a direita e no último olhar despediu-se. O dedo desceu e a explosão morreu na clareira. A cabeça chicoteou para trás e tombou para a frente. Gilass voltou a cair de joelhos e deslizou como se tivesse adormecido a meio de algo importante. E se estivesse a dormir, dormia em silêncio. Bonna atirou a arma para o lado e correu para a companheira, apertou-a nos braços e uivou de dor. Embalou-a tantas vezes que perdeu a contagem e falou-lhe, contou-lhe o que tinha acontecido. Tudo estava bem. Estava tudo bem. A IA Ding e Bat tomou conta do resto. Sinalizou a clareia e vários piratas escorreram pelas árvores. Destruíram o emanante da OxyGen e revistaram os corpos tombados. Quando procuraram pela Bonna, já tinha sumido.
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O céu caiu sobre Mnemosine. E das paredes de chamas que consumiam o mundo, duas figuras surgiram: uma erguida, a embalar a outra nos braços. E no jogo de sombras e luz, avançaram escondidas dos outros que fugiam do fogo.
Os gritos de dor dos ficavam para trás abafavam a marcha silenciosa das figuras. Atravessaram para a destruição, deixaram tudo para trás e desapareceram de vista. Para alguns foram uma miragem. Na urgência foram uma ilusão, apenas o fogo era real e esse levou tudo.
A mulher carregava a outra nos braços. Entraram na escuridão, deixaram os corpos sem vida dos companheiros para trás e chegaram à naveta. Em breve estariam fora dali.
Deitou o corpo da companheira nos bancos de trás, cobriu-a com duas mantas térmicas e prendeu-as bem. Ajustou os cintos para segurar o corpo e sentou-se aos comandos. A IA retornou aos terminais da naveta e estabeleceu uma nova rota. Esta acordou, com o murmúrio baixo do motor a preencher o vazio. Afastaram-se do chão e subiram em direcção à atmosfera.
*
Dois cruzadores da OxyGen rebocavam a Nineteen Eighty Four. A Armada Real de Xilos também lá estava e o cenário era outro. Alguém estava a querer ligar. A voz do Rei Johanes cumprimentou-a solenemente e, como Capitã, actualizou-a da situação: a OxyGen enviou dois cruzadores para recuperar a IA descontrolada; todos seriam compensados e os mercenários capturadas seriam levados à justiça. Ela perguntou por Suzako. O Rei confirmou o óbito e o último acto de valentia ao eliminar o Capitão da Heracles. Ela estava orgulhosa do amigo, mas a voz não denunciou a emoção.
O Rei perguntou aonde ia, ela não sabia ainda. A biblioteca de Xilos precisava da sua IA, comentou. Esperava-a em breve para a devolver e que teria sempre um abrigo em Xilos, na sua residência. O Rei despediu-se e Bonna fechou o canal.
A naveta de Bonna Fide saltou para local incerto e nunca mais foi vista.
If they say
Who cares if one more light goes out?
In a sky of a million stars
It flickers, flickers
Who cares when someone's time runs out?
If a moment is all we are
We're quicker, quicker
Who cares if one more light goes out?
Well I do