Ricochet188 |
O rato estava no meio da multidão e dividiu-a em duas como um profeta a separar as águas. Estava coberto por uma túnica que não trazia há momentos e numa mão estava uma arma e, na outra, um dispositivo que não dava para ver o que era.
O Capitão e Gilass continuavam de costas.
"O que te prometeram, Persimon?" perguntou o Capitão entre goles. Bateu com o copo na mesa. "Dinheiro? Prazer? A tua tripulação?"
"Imortalidade" respondeu o poeta.
"Oh não, és um daqueles vilões!" Momoa soltou uma gargalhada com bafo ao álcool.
"Meu Capit-!"
"Não sou o teu Capitão nem porra nenhuma" cortou de imediato e enfrentou o traidor. A arma estava-lhe apontada. Riu novamente. "Continua, declama que sei que gostas... mas em rima, por favor."
Persimon não vacilou e pigarreou para dar a partida.
"Quando morreres, as pessoas vão ler sobre o Capitão Momoa. A história, a lenda, os factos, os feitos. E nós? Bonna, Suzako e os outros? Morremos à margem da lei, uma nota de rodapé do grande Capitão Momoa. E o nosso trabalho? Quem vai ler poesia de um pirata entesado? Ouvir a música de um mocado? Admirar as esculturas do Ibrahim, os quadros do Klaus. Tudo queimado e esquecido..."
O Capitão mostra o revolver nas calmas e assenta-o ao colo.
"E eles dão-te essa imortalidade?" Suspirou como, se de alguma maneira, reconhecesse a razão do lado do antigo camarada.
"Não quero ser recordado apenas como um pirata, mas como um homem das letras. Quero que a minha obra viva para sempre. Eles vão descarregar, memorizar, partilhar. Viverei para sempre na memória do universo." O capitão acariciou o punho da arma.
"E para isso preciso da Milano. Desculpa..."
"O que é isso na tua mão?" Momoa levantou a arma e esticou-a na direcção do homem. Este testemunhou tudo, permitiu o gesto e consentiu. Agora ambos tinham uma arma em cada direcção.
"É o meu plano B." Prime o botão no aparelho e leva-o à boca. Os lábios movem-se mudos e em câmara lenta.
Gilass também tinha a arma dela a levantar-se para Persimon.
O mercado era o olho do tornado. Calado, congelado naquele momento e nas paredes as pessoas afastavam-se e atiravam palavrões e ordens de comando para o ar.
Duas armas apontadas a uma.
"Anda, Milano." "Fica, Milano!"
E o staccato dos disparos ecoa pelo mercado e pelas artérias. Há quem se atire ao chão e começa a guinchar.
Gilass deixa a arma tombar no indicador. O Capitão cambaleia para o banco e senta-se. Persimon tomba para a frente.
Gilass caminha até ao corpo. Tinha uma entrada nas costas, pelo pulmão. Vira-o com a ponta da bota para o céu. Persimon, o poeta, abocanhava o ar como um peixe roubado à água, mas encarou a mulher e chorou como se visse a musa.
Fi-lo por ti.
A liberdade na palma, a criatividade na alma.
Escrevia, corria, e cada dia morri...
Voltou a morder o nada, a mastigar ar e a tossir espuma encarnada.
Pior do que morrer?
Viver sem amar, dormir sem sonhar.
Musa, pior do que morrer é esquecer.
Pior do que morrer é esquecer...
Gilass fechou-lhe os olhos e voltou ao Capitão.
Capitão, estamos a detectar aproximações de todas as direcções...
O Capitão sentado ergueu o braço e o dedo ao ouvido, "Identificação?"
Ainda não.
The rat stood in the crowd and divided it in two like a prophet parting the sea. He wore a tunic that he didn't have before. One hand held a gun and the other held some kind of device that they couldn't see clearly.
The Captain and Gilass had their back to him.
"What did they promise you, Persimon?" asked the Captain between sips. He slammed the cup on the table. "Money? Pleasure? Your own crew?"
"Immortality" he replied.
"Oh no, you're one of those villains!" Momoa exploded a laugh that stank of alcohol.
"Cap-!"
"I' m not your fucking Captain!" he cut right there and faced the traitor. His gun was aimed at him. He smirked. "Go on. Recite it, I know you enjoy it. Do rhyme, please."
Persimon stood his ground, and warmed his throat to begin.
"When you die, everyone will read about Captain Momoa. His story, legend, facts, and deeds. The rest of us? Bonna, Suzako, and the others? We will die outside the law, a footnote on the great Captain Momoa. What about our work? Who will read the poetry of a broke man? Listen to the music of a junkie? Admire the sculptures of Ibrahim, Klaus paintings... All burned and forgotten... "
The Captain shows his revolver. No rush and places it on his lap.
"And they will give you that immortality?" He sighed like he saw that reason was with his former mate.
"I don't want to remembered just as a pirate, but as a man of poetry. I want my legacy to live on. They will download me, memorize, and share. I will live on the universe's memory. " The Captain caressed the gun's hilt.
"I will need Milano for that. I am so sorry..."
"And what is that on your hand?" Momoa lifted his gun towards the man. Persimon witnessed everything, he even allowed it. Both were aiming at each other.
"Plan B" and the poet presses a button and closes it to his mouth. His lips move with no sound and in slow motion. Gilass drew her gun towards Persimon.
The market was the eye of the storm. Quiet, frozen in that moment, and in the walls the people were fleeing and screaming swear words and commands to no one and everyone.
Two guns aimed at one.
"Move, Milano." "Stay, Milano!"
The staccato of the fire echoes through the market and its arteries. Some duck and yell. Gilass loosens her weapon on her finger. The Captain stumbles to the bench and sits. Persimon falls front to the ground. Gilass walks to the body. He had a bulled on his back, through the lung. She turns him with her boot and he faced the sky. Persimon, the poet, gasped for air like a fish stolen from water. He faced the woman and cried like he found his muse.
Did it all for you.
Freedom made men whole, creativity made my soul.
I wrote, and I ran, but couldn't escape my hole...
He bit more air, chewed it and spit a reddish foam.
Worse than dying?
Life without love; sleep without dream.
Oh, Muse, worse than death is to forget.
Worse than death is to forget.
Gilass close his eyes and returned to the Captain.
Captain, we're detecting multiple contacts from every direction...
The sitting Captain lifted his arm and his finger to the ear, "ID?"
Not yet.
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