Mshindo9 |
A mulher carregava a outra nos braços. Entraram na escuridão, deixaram os corpos sem vida dos companheiros para trás e chegaram à naveta. Em breve estariam fora dali.
*
"Hey, hey, hey, Bonna. Bonna Fide. Leve-me consigo, por favor" soou a IA Ding e Bat da biblioteca que os tinha acompanhado no resgate.
"Para quê?" A pirata estacou frente a um terminal.
"Vim convosco para aprender, para conhecer este novo planeta. Perder a oportunidade de descer e aprender em primeira mão é um erro crasso. Meta-me num emanante e nem dará por mim."
Vinte bons homens e mulheres separaram-se em duas navetas. Piratas e voluntários de Xilos equipados para atacar no solo, Suzako ia a pilotar uma delas. Tinha os auscultadores ao pescoço a murmurar as suas músicas e até ele guardava uma arma. Bonna ia na outra, armada até aos pés e com a AI alojada na cintura. Pouco depois estavam a sair da Chiron em direcção ao planeta.
Uma breve análise mostrou poucos sítios para aterrar, mas havia um. A IA informou Bonna que era o melhor sítio para aterrar. Havia várias navetas em baixo, mas poucos alvos. Quando esta sugeriu outro sítio, a IA recusou. O solo daquele planeta era irregular e fora algumas áreas seguras, mas longe, estava coberto por alguma coisa que não conseguia identificar.
Os mercenários em terra dispararam assim que as navetas se aproximaram, mas a vantagem da altura não estava do lado deles. As navetas rodearam os alvos e não demorou muito até serem abatidos.
Saltaram ainda antes de tocarem no chão e correram em frente, para lá das navetas e dos corpos dos mercenários.
Era de noite e não conseguiam ver bem onde estavam, mas para além de pequenas construções pré-fabricadas, aquele terreno parecia que tinha visto um grande incêndio: árvores e chão negros como a noite mais escura. A IA sugeriu que não era natural, talvez aquele sítio era o melhor para aterrar porque foi preparado antes de chegarem, possivelmente pelos mercenários. Então, o que queimaram? Os focos das armas faziam um mau trabalho a iluminar para além da barreira de árvores carbonizadas. O cheiro, alguns repararam, era de carne queimada.
O céu iluminou-se num clarão e por momentos conseguiram ver onde estavam. Algumas barracas e uma floresta enorme que se prolongava para lá daquela clareira.
Guilass deixou três guardas nas navetas, com Suzako, dividiu três grupos e ordenou dois deles para inspeccionar as barracas. Seguiu com o último para dentro da floresta que não estava queimada, em direcção da última localização de Guilass.
A primeira vez que Suzako viu combate de perto até se safou muito bem. A adrenalina bateu e quando deu por si a arma estava-lhe na mão e era-lhe confortável. Isso aconteceu quando uma patrulha de mercenários saltou da orla da floresta, chamados pelos colegas abatidos. Os três soldados quase que foram apanhados de surpresa, mas defenderam-se. Uma foi baleada no ombro e sentou-se.
Os dois grupos de cinco de soldados nas barracas também entraram em combate. Os mercenários rodearam o campo e investiram de dois lados opostos, mas um deles estava mais vulnerável: o das navetas. Suzako atirou-se para o chão e rastejou por debaixo de uma naveta onde apanhou as pernas rápidas de vários mercenários que caíam com os disparos. O resto da equipa acabava o serviço. Rastejou para longe da sua naveta para repetir a estratégia. E foi quando o viu: Tieton. Ele não estava na Heracles. O Capitão pirata berrava ordens de comando, parecia desesperado e para lá de raivoso. Ele pode ver-lhe as expressões quando alguma coisa rebentava perto e rapidamente desaparecia. Isso podia jogar a seu favor e contra. Rastejou apenas ao som dos disparos, a controlar os movimentos de Tieton que olhava para o céu a berrar. Era a oportunidade perfeita para se aproximar e foi o que fez.
Aliados e adversários morriam dos dois lados e tiros voavam para cada lado e eles os dois ali. Tieton disparou e abateu alguém que Suzako não viu. Suzako encostou-se a um tronco negro, preparou a arma e aproveitou a luz de uma explosão para procurar o Capitão. Estava mesmo ao seu lado a disparar para um companheiro. Levantou-se e disparou duas vezes, o primeiro só chamou a atenção de Tieton e o segundo foi ao ombro.
O Capitão de Heracles nem o conhecia. Não sabia da sua música, do seu receio de combate, da sua indiferença e do seu coração bom. Ergueu a arma e disparou duas vezes sobre Suzako. Caiu de costas. Tieton avançou sobre ele a disparar, acertando mais dois no peito. O pirata músico cuspia sangue e vida, a música saía-lhe pelos auscultadores e o último beat que compôs foi de génio: Tieton cresceu sobre a sua cabeça e ia acabar com ele, mas Suzako foi mais rápido. O braço levantou a arma do chão, em direcção à cabeça do Capitão. Disparou uma vez. O outro tombou em cima do pirata. À volta deles, o combate continuava. Antes de expirar, Suzako assistiu à coisa mais bela e triste de todo o sempre: o céu iluminou-se como se fosse dia, como se as estrelas naquele céu tivessem passado a supernova, como se chorassem, mas não por ele. Não...
*
Bonna ouviu os disparos atrás de si, mas quando se preparou para regressar, a sua própria patrulha viu-se emboscada. Apenas esperava que o camarada tivesse mais sorte do que ela, pelo menos em vantagem numérica. Quanto ao resto, não podia fazer mais e tinha muito com se preocupar. A IA tentou falar consigo várias vezes, mas Bonna não estava para isso. Ignorou-a e ignorou a luz intermitente do comunicador. Todos pareciam querer falar consigo, mas ela não podia atender.
"Escrevam a porra de uma carta!" berrou enquanto disparou uma rajada na direcção das árvores. O céu cobriu-se de um manto laranja e parecia que estava a amanhecer no fim do mundo. Durou segundos, mas o suficiente para ela registar os inimigos.
E quando o combate terminou do lado dela já ninguém lhe ligava, mas a IA tinha uma gravação da Chiron...
The woman carried the other in her arms. They walked into the darkness and left behind the lifeless bodies of her companions. Then they arrived at the shuttle, and soon they would be gone.
*
"Hey, hey, hey, Bonna. Bonna Fide. Take me with you, please" asked the Ding and Bat AI from the library that came with them on the rescue mission.
"What for?" The pirate stood in front of a terminal.
"I came to learn, to study this new planet. Missing the opportunity to go down there and see it first hand is a huge mistake. Download me into a emanator and you won't notice me."
Twenty good men and women separated into two shuttles. Pirates and volunteers from Xilos armed to storm the ground. Suzako was piloting one shuttle, headset on humming his tunes. He even carried a gun. Bonna was riding the other, heavily equipped with the AI on her belt. Soon enough they left the Chiron towards the planet.
A brief scan revealed few places to land. There were some shuttles bellow, but few targets. When Bonna suggested a new landing place, the AI refused. The ground was very irregular and apart from some safe zones, but far, it was covered by something he was unable to identify.
The mercenaries on land fired as soon as the shuttles came into view, but their higher ground proved an advantage against them. The shuttles surrounded the targets and it didn't take long to end them.
Some jumped before the shuttles touch the ground and ran ahead.
It was night and they couldn't see where they had landed. Besides a few pre-built constructions, the terrain looked like it had seen a big fire: trees and ground black like the darkest night. The AI suggested it wasn't natural, perhaps that place was a good landing spot because the mercenaries had prepare it beforehand. What did they burn? The lights on the weapons did poorly to show beyond the barrier of charred trees. The stench, some noticed, was like burned flesh.
The night sky light up with a flash and for a moment they saw where they were. Some barracks and a humongous forest beyond the clearing.
Guilass left three guards with the shuttles, with Suzako. Split three patrols and ordered two to inspect the barracks. She went with the last into the forest, where the radar showed Guilass for the last time.
The first time Suzako saw combat he did pretty well. The adrenaline kicked in and when he came to himself, he had his gun ready. Comfortably ready. That happened when a patrol of mercenaries jumped through the side of the forest, probably summoned by the fallen comrades. The three pirates were almost caught by surprise but they defended themselves. Only one caught a bullet in the shoulder and fell behind cover.
The other two groups of five soldiers came from the barracks and went into combat as more mercenaries came from the woods. Only one group was vulnerable, the one on the shuttles.
Suzako hugged the ground and crawled beneath a shuttle shooting the legs of the enemies that feel immediately. The rest of the team finished them off. He crawled away from his shuttle to repeat his strategy and then he saw him: Tieton. He wasn't aboard the Heracles. The pirate Captain barked orders, and seemed desperate and madder. He saw his facial expression when something exploded and illuminated the combat. The light would vanish in seconds. That could play for and against him. He dragged his body to the sound of the shooting, controlling Tieton that observed the sky and yelled. It was the perfect opportunity to come closer. And that's what he did.
Allies and enemies died on both sides and bullets flew everywhere and there they were.
Tieton fired on someone Suzako couldn't see. He hid behind a dark trunk, readied his weapon and used the flash of an explosion to target the Captain, He was right next to him, firing on another friend. He jumped up and fired twice: the first shot warned him and the second went through the shoulder.
The Captain of the Heracles didn't even knew him. Didn't listen to his music, wasn't aware of his fear of combat and indifference, and good heart.
Raised his gun and also fired twice on Suzako. He fell on his back. Walked to the man still firing, hitting his chest twice again. The pirate musician spat blood and life, his music escaped through the headset and the last beat he composed was magnificent: Tieton appeared over his head and was about to finish him. Suzako was faster. His arm raised the gun from the ground and found Tieton's head. Fired once. He fell on top of the pirate. Around them, the combat went on. Before he expired, Suzako witnessed the most beautiful and saddest thing in the world: the sky was bright like daytime. As if the stars became supernova, like they were crying, but not for him. No...
*
Bonna listened the firing erupt behind her, and when she was starting to return, her own patrol was ambushed. She only hoped her friend had more luck, he had numerical superiority. At least that.
As for the rest, she couldn't do much more and had a lot to worry about. The AI tried to talk with her but Bonna paid no attention. She ignored it and ignored the flashing light on the com. Everyone wanted to chat with her, but she was busy.
"Write a fucking letter, dammit!" yelled while spraying the tree line. The night sky was covered in orange and it looked like dawn was coming to the end of the world. It lasted for a few seconds, enough to target the enemy.
And when the fight was over, no one was trying to reach her. The AI only had a message from the Chiron...
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