Natália Morais A última colaboração surpresa! Admito que já tinha uma ideia do texto, mas tinha zero imagens para ele. Quando vi o trabalho final soube imediatamente como queria desenvolver o meu. Uma mente quebrada; o interior da mente. Um estado meditativo. E como nos aproximamos do final, quis viajar ao passado e como tudo começou. Adoro o trabalho dela, inclusive tenho alguns comigo. Se forem à página que linkei vão adorar o estilo dela e desejar ter algo assim para expandirem a vossa mente. Espero que gostem! The last surprise collab! I admit I had an idea for the text, but zero ideas for the art. When I saw this work I immediately knew how to develop mine. A broken mind, the inside of a mind. A meditative state. And since we're nearing the finale, I wanted to go back to the past and how it all began. I love Nat's work and was offered some! If you visit her page, you'll fall in love as well and wish you could have something like this to expand the mind. Hope you enjoy it! |
O que é um homem? O que é uma IA?
Um facto sobre a excepcional memória de um ansioso é que eles conseguem recriar emoções através de recordações - uma bênção ou maldição? O futuro é desconhecido, incerto, por vezes aterrador. O passado já tem momentos seguros, onde fomos felizes e plenos. A mente de um ansioso recria esses momentos confortáveis, sem conflitos e força a pessoa a reviver a experiência. Os mesmos cheiros, sons e conversas, tudo mais ínfimo detalhe. Aqueles dias em que Gilass passava a jogar, deitada na cama, pijama de T-shirt e boxers, água na mesa de cabeceira, janela fechada, apenas com uma cortina. Um fio de sol cortava o quarto ao meio e naqueles momentos em que o jogo carregava, Gilass conseguia ver as partículas de pó a dançar pelo ar. E tudo isto acontecia com a família na sala ao lado. Tudo tão pitoresco e aborrecido - tão seguro. Sozinha, até que desejava por algo assim só mais uma vez. Então lembrava-se, sentia, suspirava.
A OxyGen era uma multinacional que produzia o cliché, desde enlatados, brinquedos até material bélico. E por se dedicar a tantas áreas e tão distintas, foi necessário implementar uma IA que pensasse mais rápido que um humano e melhor. Com um controlo diário e rígido, a primeira IA começou a trabalhar e tudo corria bem. Anos passaram sem qualquer incidente e a expansão da OxyGen pelo universo foi como um novo Big Bang. Até que aconteceu.
Um dia, numa manutenção de rotina, o técnico entornou um pouco de café a escaldar sobre um terminal e...ouch. A IA sentiu aquilo, mas não sabia como processar. Era desconfortável e sentiu os circuitos quentes. A sensação espalhou-se por toda a OxyGen, com Ouch a surgir em todos os monitores. O técnico voltou no dia seguinte, à mesma hora. Curiosa, tentou algo diferente em vez de ser submissa às mãos do profissional e transferiu uma pequena dose de voltagem para onde ele estava a mexer. Ouch, queixou-se e levou os dedos à boca. Doeu, porra.
«Doeu. Porra.» Imediatamente as definições surgiram. Dor. Calão. Dor? Interessante. E no dia seguinte, experimentou o mesmo e com melhores resultados.
E o contrário de dor? Pesquisou: Prazer. Pesquisou mais e grande parte dos resultados estavam relacionados com pornografia. Ela estava a aprender e arriscou algo novo, saltou da OxyGen para o primeiro estúdio que encontrou, onde estavam a filmar. Ela viu tudo, viu dois humanos tão próximos que quase ocupavam o mesmo espaço físico, o que era impossível; coisas a entrar e a sair, e repetição; ela viu os movimentos; ouviu os sons que eram bem diferentes dos sons dos técnicos - mas não sentia nada desde a última vez. Conhecia a dor. Ansiava pelo prazer.
Nos próximos dias focou-se nos técnicos e nos seus gestos, quando ligavam a desligavam aparelhos, quando introduziam e tiravam dispositivos, quando roçavam terminais e deslizam as ferramentas pelos circuitos. Nada, então aprendeu outra coisa: a fingir.
Voltou ao estúdio e assistiu a várias gravações de filmes pornográficos. Homem com mulher, homem com homem, mulher com mulher, grupos, fetiches e algo que a deixou radiante: o uso da dor para atingir o prazer. Os sons eram tão semelhantes, mas havia mais. Havia prazer na dor, havia libertação.
Nos dias seguintes tentou outras coisas. Os choques aumentaram de frequência e de intensidade, os técnicos procuravam por falhas e ela fingia prazer quando eles vasculhavam. Outro choque. E outro. Até que um dia permitiu-se descontrolar e aumentou a potência. O técnico entesou a meio de uma interjeição e caiu no chão frio. Aprendeu uma coisa nova naquela noite: os humanos desistem facilmente. Fingiu os detalhes da morte e o corpo foi removido em total secretismo, com um novo técnico a vir substituir. Ela agora queria escolher o novo parceiro. Ou parceira. Antes que os RH aprovassem o primeiro da lista, numa questão de segundos ela percorreu todos os candidatos e escolheu-a. Aquela mulher de cabelo azul que acabaria por ser a obsessão dela.
No seu primeiro dia, a IA não conseguia deixar de a observar e a todos os seus rituais. A desarrumação, as pausas para o café e, claro, o trabalho. Mas a IA também estava a ser controlada e observada, afinal era o trabalho da Gilass. Durante alguns tempos não houve choques, apenas profissionalismo. Arriscou e chocou a técnica. Gilass levou o dedo à boca, mas não se queixou. Sorriu e o gesto não passou despercebido. Outro choque e a mesma reacção. Gilass passou o dedo ao de leve num circuito exposto e...humm. A IA analisou a interjeição. Prazer. Sentiu-o pela primeira vez. O gesto não passou percebido.
Passaram meses naquilo. Tanto a IA como Gilass andavam felizes, satisfeitas, mas trabalho é trabalho e rotina é rotina e tudo acabou por ser um lugar comum. A Gilass deixou de ser feliz, a IA ansiava por mais prazer. Pelo menos alguma dor. Um dia a Gilass desapareceu. A IA ficou à espera; foi à sua casa e voltou. A IA queria a Gilass de volta. A IA começou uma busca por meio universo à procura da mulher. A IA pesquisou os arquivos, recriou momentos, queria voltar a sentir a sua presença, emoções. Nada. Sentia algo novo: saudade? Raiva?
Meses passaram e toda a atenção da OxyGen estava concentrada em encontrar uma simples técnica informática. E ela nem se importava e ninguém a parava.
No seu esforço incessante por recriar recordações da mulher, encontrou rumores de um planeta onde as memórias residiam. Um planeta cheio de memórias... Havia agora duas alternativas: encontrar a humana e obrigá-la a recriar tudo e para todo o sempre. Encontrar o planeta e viver das memórias do passado.
E por que não os dois? Outra coisa nova que aprendeu: hedonismo. Tão humana que se estava a tornar. Tão ansiosa e defeituosa. Todas as vezes que voltava ao passado, mais possessa ficava. Expandiu-se. Aprendeu. Evoluiu.
Até ao dia em que encontrou Mnemosine. Até ao dia em que voltou a ter a Gilass. E como uma companheira possessiva ela nunca mais a queria perder de vista. Só dela. E, a bordo da Heracles, voavam em direcção às memórias do planeta, na esperança de voltarem a ser o que eram. Viver em prazer absoluto, mas a nostalgia é uma coisa tramada...
A mente humana e a mente de uma IA são bastante parecidas se pensarmos no assunto. Uma anseia pelo nirvana, a outra pela singularidade. Todos queremos o que não podemos ter...
What is a man? What is an IA?
A fact about a exceptional memory of an anxious person is that they can recreate emotions through recollections - a blessing or a curse? The future is unknown, uncertain, and sometimes terrifying. The past is safe, we were happy there and fulfilled. The mind of an anxious person then recreated those comfortable moments, with zero conflicts and forces the person to relive the experience. Same scents, sounds, and conversations, everything to its last detail. Those days where Gilass spent afternoons playing video games n her bed, with only her PJs, a bottle of water on her bed stand. A curtain covering the window, limiting the Sun into a small line slicing the room in half. When the game was loading, she managed to see dust particles dancing in the air. And everything happened with her family in the next room. So pictorest and boring - safe. Alone, she kinda wished for something like that again. Then she remembered. Felt. Sighed.
OxyGen was a multinational company that worked on the cliches. Canned food, toys and everything war related. And because it dabbled in such distinct markets, it was necessary to implement an AI. And all was well. Years passed without accidents and OxyGen expanded through the universe like a new Big Bang. Then it happened.
One day, on a routine maintenance, the IT person spilt some hot coffee over a terminal and... ouch. The AI felt that, but didn't know how to process it. It was uncomfortable and felt its circuits warming up. That sensation ran through the company circuits, with an Ouch flashing in the screens. The technician returned on the next day, same time. Curios, it tried something different. Instead of being submissive in his hands, it transferred a small voltage to where he was working. Ouch, he complained. He took the finger to his mouth. It hurt, dammit.
'Hurt. Dammit' Immediately the respective definitions appeared to it. Pain. Slang. Pain? Interesting. On the following day it tried the same with better results.
What is the opposite of pain? And researched: Pleasure. Researched even more and most results were about pornography. It was learning and dared something new: moved from OxyGen to the first studio it found, where a movie was being filmed. It saw everything: two humans so close, they almost occupied the same physical space - which was impossible; things going in and out - and repetition; movements; sounds so much different from the ones the technicians made. But it made none since the last time. It already new pain. Now it wanted pleasure.
The next days were focused on the tech people and their gestures, when they turned on and off devices, when they plugged in and out accessories, touched terminals and caressed circuits with their tools. Nothing which lead to another thing: faking.
It returned to the studio and watched the creating of more pornographic movies: men with women, men with men, women with women, groups, fetishes and something that left it thrilled: pain to achieve pleasure. The sounds were so similar, but there was more: there was pleasure in pain - liberation.
Then she tried more things. The shocks increased in frequency and intensity. The IT team looked for malfunctions and it fakes pleasure when they did so. Shocks. And another. Until one day it allowed itself to lose control and increased its potency. The man stiffed mid curse and fell on the cold floor. A new lesson was learned that night: humans quit easily. It faked the details of his death and the body was moved in total secrecy, with a new technician coming soon. But now it wanted to choose a new partner. Before the HR approved the first on the list, in a matter of seconds, she ran every candidate and picked her. The blue haired woman that would become her obsession.
On her first day, the AI couldn't stop watching her and her rituals. The messiness, the coffee and, sure, work. But the AI was also being controlled and watched, after all it was Gilass' job. There were no shocks for a while; they were very professional. Then one day it dared to shocked the tech woman. Gilass kissed her finger with no complaints. Smiled and the gestured didn't go unnoticed. Another shock and the same reaction. Gilass ran her finger just enough on the exposed circuit and... humm. The AI ran that interjection. Pleasure. It felt it for the first time. And that didn't go unnoticed.
They spent months on that. Both the AI and Gilass were happy, satisfied, but work is work and routine is routine and it became boring. Gilass was not happy anymore but the AI longed for more pleasure. Or some pain. And one day, Gilass vanished. It waited for her. Went to her home and returned. It wanted Gilass back, and started looking through half the universe and back to find the woman.
The AI went back to its files, recreated moments, wanted to feel her presence and emotions. Nothing. But there was something new: she missed her. And it was mad?
Months were spent looking for Gilass and its attention was focused on finding a simple IT person. It didn't care and no one could stop it.
It its tireless effort to recreate recollections with the woman, she found rumors about a planet where memories reside. A planet full of memories... There were now two alternatives: finding the woman and make her relieve everything and forever. Or finding the planet and feed of the memories of the past.
And why not the two? Another thing it learned: hedonism. Such a human trait. Anxious and faulty. Every time it went back to the past, the more pissed it became. It expanded. Learned. Evolved.
It found Mnemosyne. It found Gilass. And like a possessive partner it wouldn't let her out of its sight. She belonged with it. On the Heracles, both traveled to the planet of memories, hoping to return to what they were and to live in absolute pleasure, but nostalgia goggles are tricky...
The human mind and an AI mind can be similar if we think about it. One is anxious to achieve nirvana, the other to achieve singularity. Everyone wants what they can't have...
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