Leandro
Lisboa
Almoço
Dia seguinte
Dia seguinte
“É, a cozinheira é boa.” Respondeu o Jordão.
“Acho que não fui a tempo de provar os cozinhados da dona Celeste...” lamentou.
“Mas alguém sabe que estás aqui?” Comentou a meio garfada.
Os dois rapazes ocupavam uma mesa no fundo do estúdio, algures no Bairro. O Guilherme apareceu antes do almoço e fez questão de esperar pelo outro. Sem outras alternativas, o Jordão convidou-o a entrar e acabou por perguntar se ele era servido. Quando deu por si, estavam a partilhar a marmita.
“Sim, sem stress.” Despreocupou-o. “Vim em trabalho. Eh. Mais ou menos.”
Uma cena que ainda ruminava: almoçar com os irmãos.
“Diz-me.” Mastigou uma garfada e esperou que o outro engolisse.
“Sculpa.” Engoliu. “Sem tretas: o pai deixou-nos o restaurante.”
Tanta coisa má naquela frase: «o pai» e não «o meu pai» e DEIXOU-NOS O RESTAURANTE! Parte do que arrancou do garfo foi ao goto e engasgou-se. Cuspiu-se entre tosses e limpou a baba do canto da boca. O irmão comia sem ligar como se já esperasse a reacção.
“Han?!”
“O restaurante do pai, o Tropa.”
“Sei, mas porquê?!” Estava incrédulo e o outro encolheu os ombros. Se havia razões, não estava muito preocupado.
“O pai” o pai... “contou-me que existias há uns meses e, bem, não foi fácil...” enfiou a ponta do garfo na boca. A cara do Jordão perdeu o foco e os olhos percorreram as paredes e os quadros e as fotos à procura de algo ou alguém que conseguisse fazer sentido daquele circo.
Ele nem gostava do homem. Ele nem conhecera o homem...
“Ah, não, não!” Sacudiu os braços no ar. "Não fiques assim. Na boa, mas imagina que vives a pensar uma coisa e depois, pimba!, tens um irmão. Outro irmão! É brutal!”
“E o que o teu pai fez não te chateia?” A ele sim.
“Foi uma merda para a minha mãe, mas cenas...”
“O teu irmão sabe?”
“Nah.” Mirou os atacadores dos ténis. “Ele nunca se deu bem com o pai e isto ia comer-lhe a cabeça.”
“Fodido...”
Uma cena que ainda ruminava: almoçar com os irmãos.
“Diz-me.” Mastigou uma garfada e esperou que o outro engolisse.
“Sculpa.” Engoliu. “Sem tretas: o pai deixou-nos o restaurante.”
Tanta coisa má naquela frase: «o pai» e não «o meu pai» e DEIXOU-NOS O RESTAURANTE! Parte do que arrancou do garfo foi ao goto e engasgou-se. Cuspiu-se entre tosses e limpou a baba do canto da boca. O irmão comia sem ligar como se já esperasse a reacção.
“Han?!”
“O restaurante do pai, o Tropa.”
“Sei, mas porquê?!” Estava incrédulo e o outro encolheu os ombros. Se havia razões, não estava muito preocupado.
“O pai” o pai... “contou-me que existias há uns meses e, bem, não foi fácil...” enfiou a ponta do garfo na boca. A cara do Jordão perdeu o foco e os olhos percorreram as paredes e os quadros e as fotos à procura de algo ou alguém que conseguisse fazer sentido daquele circo.
Ele nem gostava do homem. Ele nem conhecera o homem...
“Ah, não, não!” Sacudiu os braços no ar. "Não fiques assim. Na boa, mas imagina que vives a pensar uma coisa e depois, pimba!, tens um irmão. Outro irmão! É brutal!”
“E o que o teu pai fez não te chateia?” A ele sim.
“Foi uma merda para a minha mãe, mas cenas...”
“O teu irmão sabe?”
“Nah.” Mirou os atacadores dos ténis. “Ele nunca se deu bem com o pai e isto ia comer-lhe a cabeça.”
“Fodido...”
A Celeste fez questão de contar tudo ao filho tipo penso rápido.
Até pode nem ter sido a melhor decisão, mas fê-lo e ficou feito. Ainda puto,
fez imensas perguntas e se podia conhecer o irmão isto e aquilo. Mais velho, a
curiosidade tornou-se em indiferença e acabou por desprezar o homem, mas ele
sabia quem eram todos. E a mãe apontou-os assim que chegaram ao velório. Se
essa mulher não gostasse das suas novelas, então não sei…
"Nem veio a casa quando ele adoeceu. Só via a merda da tuna à frente e as festas.” “Vi-o a bazar ontem com o pessoal dele.”
“Oh, tinha assuntos importantes a tratar, vê só.”
“E o senhor Augusto também foi com ele.”
“Conhecem-se?” Acenou.
No meio daquela novela mexicana, o senhor Augusto era das únicas pessoas que a mãe não tinha nada de mal a dizer. Foi a casa algumas vezes, comeu da comida da Celeste e elogiou-a daqui até à Lua. Não fossem as curvas da vida, e ele podia ser o pai dele.
No fim, esvaziaram a marmita numa questão de garfadas, empurraram com água e limparam-se satisfeitos.
“Nunca pedi nada ao teu pai. Nunca quis nada. Não quero o restaurante dele para nada.”
“Nem eu. Para que quero um restaurante se nem sei cozinhar? Falta-me falar com o Leandro e se ele não quiser, vende-se, dividimos o guito.”
“Não mesmo, meu.”
“Depois vemos.” Levantou-se. “Posso só lavar as mãos?”
Quando o Guilherme saiu do cubículo, o colega do Jordão já tinha regressado e preparavam-se para abrir o estúdio para a tarde.
“Vou indo. Deixa as cenas acalmarem e começo a mexer-me.” Esticou o braço e apanhou-lhe a mão num aperto fraternal, mas com pinta.
“E trato do outro também.”
Saltou o degrau e desceu a rua velha, desaparecendo nos turistas que subiam. Ao fim ao cabo, no meio daquela revolta, alguma dor e confusão, o facto de ter irmãos nem era mau de todo e aquele, apesar de ser um branco a tentar demasiado ser fixe, conseguia-o ser um bocadinho. Tinha uma boca do caraças; a mãe iria adorá-lo.
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