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sábado, 7 de outubro de 2017

WRITOBER #7 - Dancing With Myself


This is the first of many collabs. The multi talented Adventiciis kindly shared one of her work so I could write about it for Writober. I wanted to do her justice and, at the same time, work on something that caught my mind. We've discussed this beautiful short story by Ernest Hemingway (Hills Like White Elephants) and the brainstorm was incredible, and I ended up learning so much, specially about interpretation and the iceberg writing technique. Check her work, and I hope you enjoy this story.

Eis a primeira de muitas colaborações. A multi talentosa Adventiciis partilhou um dos seus trabalhos para que pudesse escrever para o Writober. Quero fazer-lhe justiça e, ao mesmo tempo, desenvolver algo que me anda pela cabeça. Há dias discutimos uma linda história de Ernest Hemingway (Hills Like White Elephants) e o brainstorm foi incrível. Acabei por aprender imenso, principalmente sobre como interpretar textos e sobre a técnica do iceberg. Vejam o trabalho dela e espero que gostem da história de hoje.




The room was dark when she dragged herself in. It was way after her bedtime and the house had put itself on sleep mode. A medium-comfortable presence light beckoned her safely forward. Dropped her bag, tossed her shoes, freed her hair and feigned some composure. Eat, piss, sleep. She could do it, but it only took one step for her to notice it. Its raggedy apparel, more dark circles than eyes, a face of routine and disappointment.
"I want out" it confessed.
"You sure?" she froze in her place like she knew that was coming.
"No, but I want out."
"Okay, can you sit down for a minute?" She looked behind her and sat on a single couch. She waited for it to sit as well. She had no idea that it was that bad. She should be more careful, worry more, take care of it. Sadness, outrage. She wanted to run for it, hold it and ease its misery.
"Day in, day in. Wake up. Go there. Click, click. Listen to other folk. Leave whenever. Sleep."
"Is there anything they can help with? Ask for less hours, less work, more pay, work from home?"
"Listen," it leaned. "I want out."
"They can't afford to lose you."
"We can't afford to lose myself."
"I'm not following,"
"I will not be going tomorrow. And if you're smart, you won't be showing as well."
There was a sea like silence in the room. Somehow it was becoming very difficult to breathe. She looked everywhere for a distraction but it resumed talking.
"Look, I've taken care of everything. There's some stuff on your bedstand for you to do. It won't hurt, lots of people have done it before and ended up fine."
"I can't..."
"You can. You must." It went on a diminuendo. "After a few hours you will be gone from here."
"Will they be looking for me?"
"They will. It won't matter."
"What am I going to do? Listen to yourself!"
"Listen to yourself. I've already rehearsed this."
She drowned her head in her palms. Sighed once. Sobbed once.
"Okay. Fine" she agreed. "I'm going to end it all."
"I knew you would see reason."
"But if I'm going through with it, I need a drink."
"Strong."
"Make it double."
She raised her head, climbed out of the couch and walked to it. Really a terrible idea to bring that mirror from the trash. It. She. They looked exactly how they felt. Like shit. But soon it would change, and when her absence is noticed she would be long gone. She left the mirror, went to the kitchen and after that drink.

A sala estava às escuras quando se arrastou para dentro. Já passava da hora de deitar, daí que a casa estava em modo de suspensão. Uma ténue e confortável luz de presença orientava-a em segurança. Deixou cair a mala, atirou com os sapatos e soltou o cabelo. Fingiu alguma compostura e prosseguiu: comer, mijar e ir dormir. Ela era capaz, mas bastou um passo para reparar na outra. Tinha uma aparência descuidada, mais olheiras que olhos e uma expressão de rotina e desilusão.
"Não quero mais" confessou.
"Tens a certeza?" congelou no lugar como se já esperasse aquilo.
"Não, mas não quero mais."
"Certo, mas podemos sentar um pouco?" Olhou para trás e sentou-se no sofá de uma pessoa. Esperou que a outra se sentasse. Não fazia ideia de que estava assim tão mal. Devia ter mais cuidado, preocupar-se mais, tomar conta. Tristeza, fúria. Queria ir ter com ela, abraçá-la e acabar com a sua miséria.
"Dia sim, dia sim. Acordar. Ir para lá. Clique, clique. Ouvir as pessoas. Sair quando calhar. Dormir."
"Há alguma coisa que podem fazer? Pedir menos horas; menos trabalho; mais dinheiro; trabalhar em casa?"
"Ouve" inclinou-se. "Basta."
"Eles não te podem perder."
"Nós não nos podemos perder."
"Não entendo..."
"Não volto amanhã. E se fores inteligente, também não voltas."
A sala encheu-se de um silêncio submerso. Parecia que a respiração lhes custava. Ela procurou por alguma distracção, mas a outra continuou a falar.
"Olha, já tratei de tudo. Vais encontrar umas coisas na mesa de cabeceira que terás de fazer. Não dói nada. Já muitos o fizeram e correu tudo bem."
"Não posso..."
"Podes. Deves." O tom de voz continuou num diminuendo. "Depois de algumas horas já cá não estás."
"Irão à minha procura?"
"Sim, mas não interessa."
"O que estou a fazer? Ouve-te bem!"
"Não, tu ouve-te. Eu já ensaiei este discurso."
Ela afogou a cabeça nas palmas das mãos. Suspirou uma vez. Chorou uma outra vez.
"Pronto. Esta bem" concordou. "Vou acabar com tudo."
"Eu sabia que ias acabar por me dar razão."
"Mas se é para o fazer, preciso de uma bebida."
"Forte."
"Dose dupla."
Ergueu a cabeça, trepou do sofá e avançou na direcção da outra. De facto tinha sido uma péssima ideia trazer aquele espelho do lixo. Ela. A outra. As duas pareciam tal como se sentiam: uma merda. Em breve tudo iria mudar. Quando reparassem na sua ausência, ela já estaria longe. Afastou-se do espelho, foi à cozinha e preparou a tal bebida.




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