Damnagy |
Num lugar longínquo, a roçar os términos da expansão humana, havia um sítio onde os colonos se reuniam depois do trabalho. Um bar. Depois havia aquele local escondido das pessoas e autoridades onde apenas quem queria ir sabia onde ficava. Um outro tipo de bar. Havia bebida a ser servida, música a ser tocada e fumo a ser expirado, nada diferente de um bar ou tasca registada, mas o tipo de pessoas que o frequentava deixava a desejar.
Uma figura encapuçada enfia-se numa das ruas laterais e desaparece da multidão, desce uns degraus húmidos e dá dois toques com as costas da mão. Uma brecha abre com um olho vivo. Trocam palavras num dialecto incompreensível e a brecha fecha-se. A porta range e arrasta-se para dentro.
O encapuçado entra e vai directo para uma mesa do canto onde tenta não dar nas vistas e falha miseravelmente. Uma mulher, dois homens, possivelmente mercenários repararam na aparição e seguiram-no com o olhar. Um deles pediu mais uma bebida e quando foi servido, descolou-se do bar e caminhou para o canto. Os outros mercenários seguiram-no. Sentaram-se nos lugares vazios e passaram a bebida ao homem coberto. Houve um sorriso.
"Vamos falar. Depois bebemos." E como se partilhassem o segredo mais importante do universo, chegaram-se à frente, quase encostando as cabeças. Ninguém conseguia ouvir a conversa, e ninguém tentava. Metiam-se nas suas vidas e já era bom.
Um casal acabou a bebida e ela pediu mais do mesmo. Quando recebeu o pedido, cotovelou o parceiro para tomar atenção.
"Piratas" comentou. "Não são da mesma tripulação. Estão ali três grupos diferentes." Levou o copo metálico aos lábios.
"O que tem?" Interveio a parceira.
"Os piratas não se juntam, Katinya." O barman passou por eles com um pano na mão a esfregar o balcão em movimentos circulares. Ele mesmo a tentar ouvir a conversa. "Está prestes a acontecer alguma coisa..."
O casal bebeu à vez, em silêncio, e não voltaram a olhar para a mesa do canto. De vez em quando surgia uma gargalhada da nuvem de tabaco do grupo, mas rapidamente era abafada. O casal acabou por se ir embora. E, um a um, a mesa do campo ficou vazia. O desconhecido foi o último a sair e deixou alguns créditos no balcão limpo. Saiu para a noite como um espírito que tinha vindo assombrar.
A primeira coisa que o barman fez quando se viu sozinho foi dirigir-se à mesa do canto. Pegou nos copos, no cinzeiro cheio e ajeitou tudo no tabuleiro. Quando se preparava para regressar, reparou num papel marcado por um copo húmido. Alcançou-o e levou-o à luz para ver o que estava escrito. Um poema. Amachucou a folha e lixo com ela.
Quem deixa poemas espalhados por aí?
In a remote location, almost beyond the limits of human expansion there was a place where colonists would gather after a day's work. A pub. There was also that obscure place, hidden from other people and authorities, where only the people who knew and wanted to go knew about. A speakeasy. Booze was served, music was played and smoke was exhaled. Nothing out of the ordinary and different from a legal and regular pub. The patrons left much to be desired though.
A cloaked person dives into a side street and mingles with the crowd, goes down a few steps and knocks twice with the back of his hand. A slit opens with a living eye looking out. Words are exchanged in a unknown dialect. The slit closes. The door creaks and drags inside. The hooded man enters and goes straight to a corner table. He tries to go unnoticed but fails miserably. A woman, and two men, maybe mercenaries, took notice and followed him with their eyes. One asked for another drink and when it arrived he took it to the hooded figure. The other mercenaries followed him. He took the drink and he smiled.
"Let's talk. Drinks later." And as if they shared the most important secret of the universe, they all leaned forward, bumping heads. No one could hear the exchange and no one was trying. Everyone was minding their own business and that was enough.
A couple finished their drinks, but the lady asked for more of the same. She elbowed her partner, new drink in hand, to summon his attention.
"Pirates" he told her. "And not from the same crew. I recognize three different groups." He took her metallic cup to his lips.
"What of it?" She commented.
"Pirates never join, Katinya." The barman walked near with a cloth in hand, scrubbing the counter with circular movements. He was trying to listening on them. "Something's coming..."
The couple finished her drink, now in silence and avoided the corner table. Once in a while, a cackle erupted from the cloud of smoke that had erupted from the group. And it was hushed immediately. The couple left soon after. The table was abandoned one by one. The unknown man was the last to leave, left some credits on the spotless counter and sneaked into the night, like a phantom on a haunting.
A first thing the barman did when he was alone was to walk to the that table. Took the cups, the full ashtray and tucked everything in the tray. When he was about to leave he took notice on a small paper, circled by a wet cup. Reached for it and took it to the light to see what was written on it. A poem. He crumbled the paper and threw it away.
Who the hell leaves poems laying around?
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